Sabrina Coelho da Cruz, médica
e diabetologista, falava à agência Lusa no quadro do Dia Mundial da Diabetes,
que hoje se assinala, e considerou que a doença não diz respeito apenas ao
Ministério da Saúde, mas sim ao Estado e a toda a sociedade.
"Há uma série de
situações e uma série de responsáveis que devem estar envolvidos. Gasta-se
muito dinheiro na prevenção, mas, depois, gasta-se muito mais quando tratamos a
doença com as complicações que dela advêm", disse.
Segundo a especialista, a
diabetes compreende "complicações gravíssimas", desde o coração,
olhos e rins, com o entupimento dos vasos sanguíneos, enfartes, insuficiência
renal ou disfunções renais, entre outras.
"É uma complicação de
Estado, porque um individuo com 40 anos e que tenha sido diagnosticado com a
diabetes está dentro da idade ativa para o trabalho do país e pesa bastante
para o próprio Orçamento", explicou.
Para a também diretora-geral e
clínica do Centro Clínico de Diabetes de Angola, "único especializado e
direcionado" para o tratamento da doença, as ações do Estado em torno da
doença deveriam ser "mais incisivas" e com parcerias com instituições
do setor.
"O programa da direção
nacional de Saúde Pública está aí. Se calhar não estamos ainda a funcionar como
queremos. Há ainda muitas mazelas e falta aquela alavanca para nos impulsionar
a todos para trabalhar. É complicado quando apenas algumas pessoas estão
interessadas na situação. Penso ainda existir necessidade de motivação, não só
financeira, mas com todas a ferramentas para trabalharmos", indicou.
Sabrina Coelho da Cruz
defendeu igualmente estudos sobre a Prevalência da Diabetes em Angola,
sobretudo para planificar e coordenar ações em torno da doença, recordando que
o que elaborou, há quatro anos, não teve qualquer avanço da tutela.
De acordo com a médica, há a
necessidade de o país saber quantos diabéticos tem, porque, explicou, sabendo a
taxa de prevalência, o Estado "consegue planificar que medicação tem de
importar, as quantidades, os custos e as complicações apresentadas."
"Poderia fazer-se muito
internamente, em vez de enviar para fora [do país] um individuo para
hemodiálise, que é para vida toda. Portanto, há um elevado número de coisas que
devem ser planificadas a longo prazo", adiantou.
Com três anos de atividade, o
Centro Clínico de Diabetes de Angola tem uma "carteira" de cerca de
2.000 doentes com programas de atendimento, quando, disse a médica, o país "carece"
de endocrinologistas.
"Não somos tantos
especialistas a tratarem da diabetes no país. Há apenas 14 endocrinologistas em
Angola e, nesse número, sete são estrangeiros. É muito pouco", realçou.
Daí que, defendeu, tem de
haver orientações do Ministério, sobretudo aos jovens médicos em termos de
especializações, porque são precisos "clínicos gerais bem formados"
para atenderem uma doença crónica, mas não transmissível.