Quando se fala em câncer de
mama – especialmente durante o Outubro Rosa, momento em que o assunto da
prevenção é colocado em evidência –, é comum que as mulheres logo pensem na
recomendação de realizar o autoexame para detectar possíveis tumores.
Mas, apesar de a autoavaliação
ser um hábito importante na rotina de saúde feminina, apalpar a mama
periodicamente já deixou de ser algo recomendado como técnica de rastreamento
do câncer pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer) e pelo Ministério da Saúde
há mais de dez anos – e os motivos são diversos.
Por que o autoexame não é garantia contra o Câncer de Mama?
Conforme explica o
mastologista Rogério Fenile, especialista em cirurgias de reconstrução mamária,
a autoavaliação da mama feita em casa pela mulher é um método responsável por
detetar menos de 10% dos tumores, e isso se deve a um conjunto de fatores.
O primeiro é o fato de que,
para quem não tem conhecimento avançado de anatomia, é bastante recorrente
confundir o tecido mamário comum com nódulos. “É preciso que a paciente saiba
identificar a diferença entre a consistência de um tumor e a consistência da
glândula mamária normal, e isso é muito difícil para ela”, explica Fenile.
Outro aspecto que torna
perigoso “depender” do autoexame na prevenção do câncer de mama é o de que,
normalmente, só tumores maiores e localizados a uma certa distância da pele são
sensíveis ao toque – e isso significa que, na maior parte dos casos, a doença
já está em um estágio avançado quando descoberta pela autoavaliação.
“Um nódulo só se torna
palpável quando tem mais que um centímetro e está a menos de dois centímetros
da pele. Nódulos pequenos e mais profundos não são palpados pelo autoexame,
então a paciente acaba encontrando um nódulo já com um certo tamanho e grau de
repercussão”, considera o especialista.
Além do nódulo, há outros
sinais de câncer de mama que a mulher pode notar no autoexame: retração do
mamilo, vermelhidão da pele e até ulcerações nas mamas. Porém, Fenile alerta
que, assim como o caroço só se torna palpável após crescer consideravelmente,
estas outras alterações também só ocorrem quando o tumor já está avançado. Ou
seja, sua constatação também não é eficaz para a detecção precoce da doença.
E agora, o que fazer?
Consultas periódicas
A principal recomendação é que
a mulher visite um mastologista ou ginecologista regularmente, independente de
ter ou não o hábito de realizar o autoexame. É o especialista que irá avaliar o
risco de câncer baseado nas características da paciente e indicar os exames (e
sua periodicidade) adequados.
De acordo com Fenile, a
frequência das consultas, a princípio, não varia de acordo com a idade.
“Independentemente da idade da mulher, é fundamental a visita a um especialista
anualmente”, afirma o especialista. Caso a mulher apresente algum risco
aumentado, nódulo ou histórico familiar, ela será orientada pelo próprio médico
a respeito da periodicidade adequada para as consultas.
Outros exames
Além disso, o mastologista
indica que a forma mais frequente de descoberta do câncer de mama é a
realização de exames complementares. Eles devem ser feitos regularmente pela
mulher, e sua indicação depende da idade e histórico familiar da paciente.
Entre eles, Fenile afirma que
a mamografia é o exame de eleição, ou seja, o mais importante de todos.
Apesar de a OMS (Organização
Mundial de Saúde) e o Inca recomendarem a mamografia anual para mulheres com
mais de 50 anos e semestral a partir dos 70, a Sociedade Brasileira de
Mastologia acredita que os exames anuais devem se iniciar mais cedo, aos 40 anos.
Nos casos de pacientes com
parentes de primeiro grau que têm ou tiveram o câncer de mama, o indicado é
começar a mamografia anual aos 30 anos ou dez anos antes da idade em que a
parente em questão detectou a doença. Para essas mulheres, também é interessante
aumentar a frequência das consultas médicas em que o especialista realiza o
exame de toque.
Apesar de a mamografia ser o
exame eletivo no rastreio de nódulos, é preciso respeitar a periodicidade e a
idade indicadas por especialistas para realizá-la. Isso porque, ao fazer esse
exame, a mulher recebe doses de radiação ionizante, o que pode causar câncer se
ocorrer com muita frequência ou antes dos 40 anos.
Outro exame que pode ser
requisitado, segundo Fenile, é a ultrassonografia de mama. No entanto, ele
afirma que este não é um método eletivo, e sim complementar.
Isso significa que a ultrassom
não tem indicação periódica, é apenas realizada quando o médico julgar
necessário.
Autoexame não é essencial, mas não precisa ser abandonado!
Apesar de a autoavaliação não
ser considerada um método eficiente no rastreio de tumores, o médico afirma que
ele não precisa ser deixado de lado. “A gente recomenda que faça porque
eventualmente alguma alteração mais gritante aparece a gente acaba detectando,
mas, se a paciente não se sentir confortável ou não souber fazer o autoexame,
também não é nenhuma tragédia”, comenta o mastologista.
O mais importante é que a
mulher não deixe de visitar o médico uma vez ao ano caso não encontre nenhum
indício no autoexame, pois a avaliação do especialista e os eventuais exames
complementares são a principal forma de detecção.